A um amigo

Querido Álvaro de Campos,

Não sei se me conhece, mas aposto que sim. Para mim, o fato de conhecer uma pessoa é algo muito mais complexo e nobre do que já tê-la visto, com ela conversado e toda aquela ladainha. No meu entendimento, conhecer uma pessoa é ter uma ligação que atravessa todas essas regras e métodos. E é justamente por isso que hoje te escrevo esta carta. Caro amigo, mesmo não tendo oportunidade de te ver, sinto-te como se fosse certo. Já vivemos tantas coisas e passamos por tantos conflitos. E, na verdade, nem sabemos se acabou. Mas, se formos parar para pensar, nunca nos deixaram saber. Em meio a tanta cobrança e julgamento, as pessoas acabam perdendo suas próprias almas e vidas e depois nós é que estamos perdidos. Ou será que, no fundo (ou nem tão no fundo assim), nós nos culpamos de uma maneira tão bruta que acaba tornando-se (e tornando-nos) covarde? Você também acha que é culpa dos outros?

“Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.” Poema em Linha Reta

Creio que todo o tempo que gastei pensando não foi o suficiente. Todas as noites em claro, os poemas de sangue, o banho de lágrimas, nada! Será que nós é que somos loucos? Quer dizer, será que nós, realmente, somos loucos? Talvez sim. Talvez seja por isso que hoje te escrevo esta carta. Contudo, somos gênios, sabemos disso! Talvez isso alimente ou esconda... quem sabe?!

“Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo” Tabacaria

Estou tomando seu tempo, Álvaro de Campos? É que eu finalmente encontrei alguém que me entende em cada verso. Os outros não sabem ler as entrelinhas, não sabem ler as minhas, pelo menos. Nós somos gênios, Álvaro de Campos... Gênios! E, por mais que nos percamos enquanto ainda estamos perdidos e choremos por estarmos chorando, seremos eternos, assim como tudo que é alma...

Júlia Marino ?/?/????

Estamos em greve!

De repente as lágrimas secaram mas o dor aumentou. Céus, é como se todos os meus problemas passassem a ser nulos a banais e eu desse importância à um específico. O que mais dói. Se eu pudesse voltar no tempo adiantaria alguma coisa? Está em minhas mãos? Não! E isso machuca. Se eu for pra um lado eu irei me ferir! Mas, se eu for por outro, perderei tudo o que tenho. Deus, como era bom! Eu queria que nunca acabasse. Eu queria que aquele mundo fosse eterno! Por que a eternidade custa tanto assim? Eu amo isso mais do que tudo! Sou capaz de dar a vida! E pensar que já chorei por homens, paixões... Quer saber? Nenhuma paixão é maior do que essa. Da de uma menina e de sua casa, sua casinha querida que esta desmoronando. Seu abrigo que sempre a protegeu, deu forças quando o mundo dizia "não". Mas (que ironia filha da puta), o mundo continua dizendo "não". No entendo, a casinha não tem como acalmar mais a menina. Elas se afastaram e uma está com saudade da outra. Elas eram uma dupla imbatível. A menina amava cada cômodo, cada árvore com as quais conversava, cada graminha, casa nuvem no céu, cada barulho de carro pelas estradas ao lado, cada pé de fruta, cada picada dos insetos à noite, cada pegada no chão frio, cada música que ouvia no caminho, cada tijolo da parede, cada pássaro que voava, cada horizonte, mesmo sendo sempre o mesmo. Aliás, era isso que o tornava especial. Eu te amo! Eu te amo mais do que tudo, mais do que qualquer paixão que já tive, correspondida ou não. É incrível como você me faz o bem que nenhuma pessoa faz. Eu te quero para sempre. Deus, me ajuda! Eu nunca precisei de tanta ajuda na minha vida. Por que o mundo é injusto, insensível e mesquinho? Ele podia ter pena de uma menina que não é responsável por nada... só pelo amor!

Divã

Burros! Idiotas, mesquinhos, toscos! Sabe, eu não quero que me dêem conselhos, nada disso. Eu quero me ouçam! Que leiam o que eu escrevo porque eu não minto em nenhum momento. Metáforas são metáforas, mas eu sou eu! Se estou aqui agora trancada escrevendo é justamente por isso...!

Eu nunca implorei por dicas incríveis e nem nada. Porque eu sempre acreditei que eu me bastava... eu errei? Deus, eu quero saber o que é o certo, apenas isso. Quero ouvidos, no momento, não cabeças! Eu tenho a minha e, por mais que só tenha poucos anos de vida, ela age. Provas? Eu estou ecrevendo isso aqui agora e você não! Há!

Cansei das mesmas palavras de merda, dos mesmo sermões (totalmente) dispensáveis, dos mesmos olhares. Será que nenhuma dessas pessoas pensa na solução mais prática pra isso tudo? Me ouça! Só isso que eu quero. Cabeça eu tenho, pensar eu penso, olhar eu olhos, mas eu tô cansada de me escutar, sabe?